Sugeriu que seu pai tomasse um chá de camomila, sentou-se pacientemente ao lado da mãe para ouvir seus conselhos diários. Mas hoje era diferente, ela estava saindo sem saber quando voltaria, estava indo morar em outro Estado. Não que a vida a tenha mandado para lá, ela mesmo se encarregou disso. Precisava de outros ares. Por quê? Porque ela queria, simplesmente isso.
Prometeu para a mãe que ligaria todos os dias antes do Jornal Nacional, que era a hora em que chegaria do trabalho. Trabalho esse que ela não sabia como seria, mas estava disposta a estar disposta. Dos amigos, não deixaria nenhum, levaria todos no coração, e lá, na cidade que seria sua, esperava conhecer novas pessoas, travar novas amizades. Não sabia bem porque, mas estava confiante. Deixar a casa dos pais, mudar para um lugar onde não conhecia ninguém, tudo isso deixava sua cabeça a mil por hora. O futuro era incerto, mas ela estava decidida a encará-lo de frente, como uma criança que se joga pela primeira vez na água.
Pegou sua mala, deu uma última olhada em seu quarto. Clichê de filme, ela pensou. Mas e daí? Era exatamente assim que ela se sentia, dentro de um daqueles filmes do Woody Allen que começam com um jazz com som sujo de vitrola antiga. Sabia que estaria longe e que seria difícil ouvir aquele som que só tocava ali dentro. Fechou a porta decidida a não olhar para trás, estava deixando a casa de seus pais pela primeira vez. Todas as decisões agora seriam só dela. O som que ouviria agora era algo ainda a ser inventado. Novidades, era tudo o que ela sabia.
O pai mudo, a mãe tentando esconder a tristeza de ficar longe dela. Isso era tudo o que ela via. Já no aeroporto ela pensou: 45 minutos que dividirão o que fui do que serei. E assim ela partiu, deixando aquele som agridoce de casa dos pais, se aproximando a cada minuto do que seria ela afinal.
*Este texto foi escrito no celular, numa tarde ensolarada no Rio de Janeiro, dentro de um ônibus lotado.
vais ficar chateada se eu desejar que fiques muito tempo em ônibus?
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